A maravilha de um balcão de bar reserva-nos a surpresa da igualdade mas também a nossa intimidade.
Diz-se que os barmen são os melhores confidentes. Mas também se diz o mesmo dos barbeiros.
Nunca pensei muito no assunto, sinceramente, talvez porque não tenha o hábito de contar da minha vida para estranhos. Para o homem que me serve o gin, trocamos algumas anedotas e opiniões sobre politica e futebol. Para o barbeiro, limito-me a pedir que cumpra com a sua actividade profissional, eu pago e saio, nada mais.
Mas no bar, aquilo que deveras aprecio é a paisagem dos que comigo emparceiram ao balcão.
Ficamos todos ao mesmo nível, não há cadeiras de poder, nem barreiras a separar-nos ao que viemos: um simples momento de tranquilidade para desfrutar a nossa bebida.
Não vou só para beber, ou vou também para acompanhar a minha introspecção com um gin, é mais isso, no fundo. Faz-me falta pensar o que fui ao longo do dia, rever-me e analisar como crítico o que fui.
Não sei se isto faz de mim um homem melhor, mas faz de mim um homem tranquilo, pelo menos um homem que não é ladrão dos sonhos dos outros.